Pouco depois de completar 01 ano como piloto de balão, comecei a me perguntar por que nenhum piloto cogitava em voar sobre a cidade de São Paulo…
Normalmente o dia de um balonista que mora em São Paulo começa muito cedo. Para que a decolagem aconteça perto do nascer do sol é necessário acordar por volta das 04h00min horas da manhã e ir para alguma cidade distante, pelo menos uns 80 km da capital.
Foi em um fim de semana, caminhando bem cedinho no Parque do Ibirapuera, que eu decidi decolar para cruzar o céu da minha cidade.
A primeira coisa a fazer seria conseguir a autorização.
Comecei a desenvolver o planejamento e logo ficou claro que o voo teria de acontecer durante num fim de semana ou durante um feriado, já que nestes dias o tráfego aéreo é bem menor.
Preparei a solicitação e enviei ao Serviço Regional de Proteção ao Voo (SRPV).
Após a surpresa inicial, já que ninguém havia feito uma solicitação para voar de balão na área central da cidade, consegui a autorização. O plano de voo original demonstrava claramente que eu conhecia a movimentação das aeronaves próximas ao aeroporto de Congonhas e estava preparado para realizar tal tarefa.
Como São Paulo é muito extensa eu não pretendia cruzá-la, o plano original previa que a decolagem fosse realizada no lado oeste da cidade para embarcar de carona nas correntes que me levariam ao Parque do Ibirapuera.
O maior desafio agora era aguardar que as condições ideais ocorressem justamente nos dias de menor tráfego aéreo. Foram 03 meses de uma difícil espera.
Todos os fins de semana eu mobilizava a equipe de apoio composta de 15 pessoas mais o pessoal da equipe de televisão que acompanharia a aventura.
Finalmente na véspera do feriado da Independência os boletins meteorológicos indicavam que eu teria as condições para realizar o voo.
Dia 06 de setembro de 1993 toda equipe se reuniu no portão de entrada do Parque do Ibirapuera – local escolhido para realizar o pouso final.
06h00min horas da manhã, fizemos uma sondagem para medir a direção dos ventos e rumamos pelas ruas desertas de São Paulo até o Estádio do Pacaembu, na zona oeste, local escolhido para a decolagem.
Dividimos-nos em 03 equipes, a primeira permaneceu no próprio Ibirapuera para auxiliar o pouso, a segunda se instalou na metade do caminho próximo a Av. Paulista e a terceira acompanharia a decolagem.
07h00min horas – já estavam a bordo meu navegador Orlandinho e o repórter Ernesto Paglia da TV Globo, esperamos mais 15 minutos até a chegada do helicóptero que iria nos acompanhar. Finalmente estávamos prontos para partir, com autonomia de combustível para 2h30 de voo.
7h15 – o vento mais próximo da superfície não nos levava direto para o parque; foi necessário subir mais 400 m para alcançarmos a corrente de noroeste e sobrevoar a Av. Paulista.
7h25 – próximo ao MASP deixei o balão esfriar um pouco para iniciar uma manobra de descida, abaixo encontramos aquela mesma corrente que no início do voo nos levava direito ao parque. A direção ainda não estava boa, um pouco mais de calor e o balão volta a subir, para assim, aos poucos, encontrar o alinhamento perfeito.
7h30 – sobrevoamos agora a região dos jardins, próximo a Avenida 9 de Julho, a estratégia era manter o balão nivelado para derivar um pouco para a esquerda do objetivo e aguardar o momento de iniciar a nova descida.
O visual era impressionante!
Flutuamos sobre uma concentração muito grande de edifícios, a bordo da mais antiga máquina de voar. Cruzamos uma das maiores metrópoles do mundo num dia muito especial sem trânsito, correria e com menos poluição.
Vista daquele ângulo, São Paulo estava mais humana, talvez a cidade que todos os paulistanos desejariam.
7h40 – estava chegando o momento de colocarmos os pés no chão. Iniciamos, sobre a Assembleia Legislativa, a descida para pouso, com todo o Parque à nossa frente.
7h45 – o vento teimava em nos deslocar para a direita. Há alguns metros do nosso objetivo tivemos que abandonar os planos iniciais e fazer uma rápida tomada de decisão, escolhendo outro local para pouso, levando-se em conta a nossa segurança e a autonomia de combustível.
7h55 – aquecendo um pouco mais o balão iniciamos uma pequena subida para visualizar melhor as opções. Cerca de 500 metros do Parque percebo uma pequena área, porém suficiente para o pouso.
Depois de alguns instantes de tensão, joguei a fita de resgate e com a ajuda da equipe de apoio conseguimos finalizar a aventura.
8h10 – enfim, terra firme!
Agradecimentos ao patrocinador desta aventura:
Cutty Sark