Travessia Serra da Mantiqueira

Pedra da Mina – 2.797 m de altitude

Travessia Serra da Mantiqueira

A aventura de cruzar a bordo de um balão uma das regiões mais inexploradas da Serra da Mantiqueira foi repleta de desafios.

Em função do difícil acesso a região permanece totalmente preservada, escondendo inúmeros segredos para quem decide se aventurar por suas encostas e cristas e vencer um desnível de quase 2.500 metros . Um desses segredos foi descoberto recentemente por pesquisadores da USP que encontraram ali o 4º  maior pico do Brasil, a Pedra da Mina, com 2.797 m de altitude.

Conheci esta região da Serra da Mantiqueira há mais de 20 anos, quando tentei realizar sua travessia por trilha. Em função do mau tempo consegui chegar apenas até a base da Pedra da Mina. Sempre desejei voltar a esta montanha, mas o destino acabou me levando para outros caminhos.

Finalmente em 2003 eu retornaria a Serra Fina: recebi um convite de amigos para participar de um documentário sobre a região utilizando como meio de transporte o balão. A ideia original previa um período de 10 dias na região para que pudéssemos estudar as correntes de vento e definir qual seria a melhor estratégia para realizar o voo, já que qualquer erro poderia forçar um pouso em um ponto de difícil acesso, o que inviabilizaria o resgate do equipamento.

Travessia Serra da Mantiqueira

Como já estávamos em pleno inverno, melhor época para realizar a aventura, teria que reformular o projeto original e realizar o voo em apenas 3 dias. Resolvi encarar o desafio e fazer a tentativa.

Nossa equipe foi formada por 9 pessoas dividida em 02 grupos. O primeiro me acompanharia na preparação do equipamento e decolagem, enquanto que o segundo seguiria por trilha até a Pedra da Mina. Seria muito difícil receber informações sobre velocidade e direção do vento se não tivéssemos uma equipe no alto da montanha.

Como o tempo era curto tivemos que trabalhar rápido. Na véspera da decolagem iniciamos bem cedo as atividades, a equipe avançada rumou para a Pedra da Mina – andando praticamente o dia todo eles atingiriam o cume somente ao entardecer. A outra equipe percorreria a região em torno das montanhas para mapear os prováveis locais de decolagem, iniciando pelo Vale do Paraíba, próximo a cidade de Cruzeiro/SP.

Imaginando que na manhã seguinte as condições atmosféricas seriam semelhantes, tentamos nos aproximar ao máximo da base das montanhas buscando belíssimas áreas para decolagem.

Travessia Serra da Mantiqueira

Em um voo normal de balão geralmente decolamos bem cedo, aproveitando os horários de menor aquecimento da atmosfera. Nesse voo não seria diferente, quanto mais cedo eu conseguisse decolar maior seriam as chances de conduzir o balão para uma região segura para pouso. Não tínhamos tempo a perder, precisávamos fazer um reconhecimento também do alto da Serra identificando os melhores acessos pela face norte da montanha. Quase ao final do entardecer chegamos até o início da trilha onde a equipe avançada iniciara a caminhada pela manhã – havíamos concluído nosso objetivo do dia…

Últimos preparativos

De volta a nossa base em Santa Rita do Passa Quatro, iniciamos os preparativos finais. Escolhemos pernoitar no alto da Serra pois seria muito mais fácil identificar as correntes de vento que encontraríamos no voo. Depois de checar todo o material que incluía rádios, altímetro, GPS e mapas, preparamos todos os demais equipamentos para não perdermos tempo pela manhã.

Depois do jantar fizemos um teste com o sistema de comunicação, através de um telefone via satélite conversamos com a equipe que estava acampada no cume – as notícias não podiam ser melhores ! Os ventos não estavam muito fortes, o céu totalmente limpo e coalhado de estrelas e a temperatura próxima de 0º C.

Agora só nos restava dormir um pouco já que teríamos que nos levantar ainda de madrugada.

Hora de decolar

Ainda no escuro soltamos a 1ª  sonda de gás hélio com um tubo fluorescente pendurado, bússola nas mãos e a medição estava feita. A corrente que soprava um pouco abaixo da crista das montanhas vinha de Norte, estávamos numa posição favorável. Precisávamos agora nos deslocar até o último local que havíamos identificado e preparar o equipamento para decolagem.

Aguardamos mais alguns minutos para partir pois estávamos a espera do boletim enviado pela equipe que estava no alto da Pedra da Mina. Através do telefone recebemos informações totalmente divergentes da medição que havíamos feito – vento de Sudeste e fraco  !

Precisávamos tomar uma decisão rápida, se decolássemos da face Norte de acordo com nossas medições poderíamos ser levados para longe assim que cruzássemos a crista. Por outro lado, se decolássemos da face Sul, o vento estaria fraco demais e também passaríamos longe da montanha…

Depois de alguns instantes tomei a decisão: iríamos decolar da face sul, na base das montanhas.

Perdemos muito tempo nessa escolha, agora seria uma corrida contra o relógio para chegarmos ao local da decolagem, distante cerca de 50 km. O dia começava a clarear quando terminamos de descer a serra. Recuperamos um pouco de tempo, teríamos que descontar na montagem do balão.

Acho que neste dia estabelecemos um novo recorde de montagem de uma balão – em 05 minutos estávamos prontos para decolar !

A parte mais tensa do voo com certeza é a sua preparação. Finalmente após um contato pelo rádio com o piloto do helicóptero que iria acompanhar e filmar o voo, estávamos prontos para partir.

Diário de bordo

Um pouco mais de calor no maçarico e pronto…deixo suavemente os campos na base da Mantiqueira e começo a ganhar altura. Já consigo avistar o helicóptero e aos poucos minha direção confirma que havíamos feito a escolha certa – estou voando na direção da Serra !

Meu novo desafio agora é vencer o grande desnível da face Sul, cerca de 2.500 m de altura em poucos minutos, já que a decolagem aconteceu no ponto mais próximo possível das montanhas.

O visual é maravilhoso, não consigo imaginar nada mais bonito que flutuar numa manhã de inverno sobre esta bela região, tão próxima de grandes cidades e ao mesmo tempo tão isolada de tudo.

Toda a encosta da Mantiqueira encontra-se totalmente preservada nesta região em função do relevo muito acidentado, poucos homens se aventuraram por aqui e os que chegaram com certeza o fizeram por devoção e não por interesse. Meus pensamentos são interrompidos pelo rádio, o piloto do helicóptero solicitou que eu diminuísse a velocidade de subida do balão pois o helicóptero estava pesado e não conseguia me acompanhar.

Faço um contato via rádio com a equipe que estava no topo e eles já tinham o balão no visual. Continuo minha subida mais devagar, estou quase no mesmo nível da crista, agora é só estabilizar e flutuar suavemente sobre este paraíso. O vento já não me empurrava mais para a serra, voando paralelo à encosta continuo subindo devagar.

A primeira parte da aventura estava terminada, conseguimos belíssimas imagens de toda a região, chegava a hora de começar a pensar em pousar o balão em segurança.

A escolha do local para pouso

Neste instante sobrevoava a encosta da montanha totalmente recoberta por densa floresta, minha trajetória se mantinha constante, precisava tomar uma rápida decisão sobre o pouso.

Com o aquecimento do sol toda a atmosfera entra em movimento e aquele vento que observei no início do voo já mudou para outro lugar. Outro dado importante é que a autonomia de combustível era para 2hs de voo e neste momento eu já completara 1h no ar.

Nem tudo era ruim como pode parecer, ao menos o vento não me jogaria para o outro lado da Serra onde o acesso para resgate praticamente inexiste. Subindo bem devagar e com os olhos no GPS eu observava a direção do voo, estava me afastando da serra – somente neste momento é que pude ter a certeza que não iria mais fazer companhia para os habitantes da floresta.

Comecei a me afastar lentamente da encosta, seria preciso muita paciência para alcançar uma posição confortável para iniciar a descida. Refaço a todo o momento os cálculos para saber por quanto tempo posso me manter voando sem deixar que o gás se esgote por completo. Sempre é necessário ter combustível reserva para o caso de ter que fazer várias aproximações para pouso.

Vejo uma pequena estrada, mas ainda estou muito próximo da floresta, vou esperar um pouco mais.

Mais uns minutos preciosos voando e, pronto, inicio uma rápida descida abrindo uma válvula que existe no topo do balão, desta forma permito que o ar quente escape e que o balão perca a sustentação. Atinjo uma relação de velocidade de descida de 5 metros por segundo. Preciso descer quase 2.000 m nesta velocidade.

Há uns 100 m da superfície estabilizo o balão e….aquele vento que eu não gostaria de encontrar estava lá, me aguardando. O balão inicia o retorno novamente em direção a serra mas consigo forçar o pouso naquela estradinha próxima da floresta.

Para a minha surpresa e da minha equipe de resgate, que estava preparada para o pior, o que nós encontramos ao chegar ao local do pouso mais parecia uma miragem.

Aquela estradinha próxima a encosta dava acesso a uma linda pousadinha, encravada no pé da serra, a poucos metros do local do pouso. Tomamos um maravilhoso café da manhã oferecido pelos nossos anfitriões, como num verdadeiro conto de fadas.

SOBRE A AIR BRASIL

A AirBrasil Balonismo, criada pelo empresário e piloto comercial Feodor Nenov Jr, é uma empresa especializada em atividades com balão de ar quente atuando desde 1995 com destaque em vários segmentos: corporativo, educacional, de pesquisa, jornalístico e esportivo.

Tivemos o privilégio de descobrir o universo dos voos de balão e queremos compartilhar com você esta oportunidade única para conhecer a máquina mais antiga de voar!

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